Barragem
Quanto
mais se adianta a civilização, mais extensos se fazem os
processos de controle em todos os distritos da atividade humana. O
trânsito obedece a sinais previamente estudados. Comutadores alteram a
direção da corrente elétrica. Automóveis usam
freios altamente sensíveis. Locomotivas correm sobre linhas
condicionadas. Simples engenhos de utilidade doméstica funcionam
guardados por implementos protetores.
Em
toda parte, surgem sistemas de cautela e defesa evitando
perturbações e desastres. Semelhante apontamentos induzem-nos a
aceitar imperativo do governo à força mental, cujo destempero
não somente inutiliza as melhores oportunidades daqueles que a
transfiguram em rebenque magnético da revolta, mas também azeda
os ânimos, em torno, urtigando-lhes o caminho.
Cólera é sempre porta aberta ao domínio da
obsessão. Consultemos as penitenciárias, onde jazem segregados
milhares de companheiros que lhe caíram sob as marteladas destruidoras;
entrevistemos os suicidas, degredados em regiões de arrependimento e
regeneração, além-túmulo; ouçamos muitos
daqueles que largaram inesperadamente o corpo físico ou foram colhidos
pela morte obscura e escutemos grande parte dos alienados mentais que vagueiam
em casas de tratamento e repouso, quais mutilados do espírito, relegados
à periferia da vida e encontraremos a explosão arrasadora da
cólera na gênese de todos os suplícios que lhes garroteiam
a alma ...
Consideremos tudo isso a toda vez que a irritação
nos acene de longe, ofereçamos de pronto à
inundação dos pensamentos de agressividade e revide,
violência e desespero, um anteparo silensioso com a barragem da
prece.